quinta-feira, 31 de outubro de 2013

In(constante)



De in (constâncias) somos feitos
Como se de uma segunda pele se tratasse.
Mas é no campo do desejo
Que mais inconstantes nos mostramos.
Hoje queremos, o que ontem rejeitamos
Amanhã deitaremos fora, o que hoje amamos
Afinal quem somos, ou será que não somos?
Se fossemos, alguma constância haveria
Como há noite e dia.
Talvez não sejamos mais do que poeiras
Que o vento leva em todas as direções.
Arrastados por inconstantes emoções
Nos fazemos chuva, sol, neve
Inundando, queimando, gelando.
E quando o sorriso chega,
Na primavera de um desejo
Sorrateiro, subtil ou grosseiro,
Logo a inconstância,
Na linguagem que lhe assiste
Se instala e persiste
Em mostrar que de constante
Existe o bastante
Contido ao luar
Num raio de luz,
No lago a brilhar

2013.10.16








Interrogação


Em inconstâncias vivo
A vida a que chamo minha
Como chamo meu a um qualquer objecto.
E mesmo esses, os objectos
Que tenho deles?
E esse mim, onde habita?
De que cor se pinta?
Tem forma, odor?
Ou será na dor,
Na vertiginosa dor que me revisita
A cada dissabor,
A cada revés,
A cada querer e não querer,
A cada in(constância)
Que espero constante,
Será aí,
Nesse espaço escorregadio
Pleno de vazio,
Que a realidade sem véus
Ausente de separações
Se manifestará na derradeira constância
Livre de qualquer manifestação
Livre.
Será?


2013.10.16

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Prece


Raio de luz
Leva-me contigo.
Mostra-me
O quanto somos um,
Porque o não vejo
Neste mundo do desejo
Onde me movo
Me enrolo
Me despedaço.
Mostra-me o caminho
Da luz
Do despertar
Da lucidez.
Tu, que em tudo brilhas,
Que em tudo penetras,
Sem separação,
Sem preferências,
Sem pré-conceitos.
Tu que apareces e desapareces
Cumprindo a sina
De tudo o que é,
Mostra-me quem sou,
Ilumina-me caminho.

2013.10.03