quinta-feira, 15 de dezembro de 2016



Não me falem de Natal


Não me falem de Natal
Enquanto Natal não houver, no coração dos homens.
Enquanto lágrimas de horror, de medo, de desespero, molharem faces.
Enquanto uma criança der à praia, morta.
Enquanto bombas estilhaçarem corpos, esperanças.
Enquanto se desventre a Terra, em ambições selvagens.
Enquanto se escureçam céus de nuvens sujas, poluindo vidas.
Enquanto a floresta nada mais for que um negócio, cego à condição humana.
Enquanto o medo e a fome prostrarem irmãos, senão de sangue,
de condição.
Enquanto houver gritos de revolta, agrilhoados.
Enquanto uma bala certeira derramar sangue, por ódio, vingança
e todo o tipo de ignorância.
Enquanto reinar a desigualdade entre homem e mulher,
entre indivíduos da raça humana (como se de diferentes raças de tratasse).
Enquanto o poder torne selvagem, quem o detém.
Enquanto se desdenhar o bem, como valor maior.
Enquanto chacinas houver, em nome da incessante procura do saber,
de crenças obscuras, do lucro sem fronteiras, sem limites.
Enquanto rios e mares sofrerem de exploração desmesurada,
ameaçando espécies.
Enquanto o homem, estúpido, ignorante, selvagem,
predador incansável, explorador sem limites, sorrir.

E se algum de vocês me falar de Natal, em prantos de profundo sofrimento,
talvez o meu olhar se vos dirija, na busca de um Natal, em vós.

Até lá, não me falem de Natal.









sexta-feira, 18 de novembro de 2016



Fim de tarde

A noite cai sobre a praia. Espero-a. Ela, e tudo o que o seu chegar contêm. No aconchego do ar quente, trazido pelo vento, observo o horizonte que numa beleza exuberante, se mostra. O mar estende-se até si e funde-se em cores fortes, quentes e sombrias, deixadas pelo sol que, de mansinho, nos vai mostrando, sem pressas, o seu lado romântico, tranquilo, num convite ao amor, à poesia e ao que de mais belo pode sentir quem o contempla. A sua imensa beleza toca o mar com as cores da tarde finda, da noite vinda, deixando o brilho, que até ali foi seu, à elegante lua que se ergue no céu, curvilínea.
Na amplitude do momento em que tudo faz sentido, quebram-se todas as fronteiras. As certezas dão lugar à liberdade. Deixo de ser, sendo maior do que tudo aquilo que em mim possa caber. Na imensidão do horizonte, fundo-me com a natureza. Desapareço e conheço a paz.

2013.08.10
Carcavelos

21h