segunda-feira, 27 de março de 2017




Ruas sem saída


Caridade vivia no fundo da rua
lá onde ninguém ia,
rua vazia, rua vadia.
Rua perdida no meio do nada
de morte abraçada.
Rua estilhaçada.

Numa noite de inferno, 
cinzenta e molhada
chega à tal viela,
entra p’la janela,
o vento Suão, 
anunciando o  verão.

Caridade sorriu, 
medrou e saiu para o abraçar.
Ele assim o fez:
Afagou-lhe a tez,
soprou-lhe ao ouvido
belas esperanças
sonhos e mudanças,
no fundo da rua.

Recetiva e nua
deixa Caridade
Suão embalar
seu corpo ondulante.
Bailando flutua,
sorri para a lua
parte p’ra voltar.

Suão carinhoso
terno e dengoso
traz-lhe o que é preciso,
para alegre a ver!
Um amor assim
caridade em mim,
o que for em vós,
cheiro de alecrim
flor de jasmim
é pátria dos sós.

E ao fundo, a rua,
lá onde ninguém ia,
não mais foi vazia.
Escolheu ser vadia
e no meio do nada
tudo ser um dia.

2014.01.06


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